terça-feira, 27 de setembro de 2011

Dica aos colegas

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Professor Celso Antunes


Como incentivar meu filho a estudar matérias que ele não gosta? Qual é a melhor maneira de ensiná-lo a decorar a tabuada? (Ana Maria Nogueira de Castro, Curitiba/PR)A sua pergunta, Ana Maria, já abriga a resposta. Se é essencial que se "decore" uma coisa, não é possível outra senão decorar. O que se discute é se a aprendizagem mecânica, que anima toda memorização, realmente leva o aluno a compreender a significação de uma tabuada. Essa compreensão é absolutamente essencial, e todo aluno necessita perceber, por exemplo, que 7 x 6 significa 7 seis vezes, e que, portanto, tem a mesma representação simbólica que 6 x 7. Quando a criança percebe o sentido da tabuada e exercita seu uso sem pressão e com raciocínio, descobre que decorar é simplesmente buscar atalho para a tarefa de compreender.
Como saber se a escola é a opção certa para nossos filhos? Tenho uma filha que, constantemente, "desliga-se" em sala de aula. Aparentemente, não lhe agradam as exposições dos professores e a dinâmica de algumas aulas. (Regina Aparecida Cabalhero Passarella)A resposta a essa questão, Regina, deve começar por um cuidadoso exame das causas do desinteresse de sua filha. Ele seria explicado por um pequeno problema de déficit de atenção? Seria causado pelo despreparo de seus professores ao propor desafios que não necessitam de esforço para serem superados? Estaria ligado ao universo de seu estado emocional? Perguntas como essas, ainda que não difíceis, exigiriam um estudo de caso criterioso que iria muito além de uma simples e distante resposta. Desculpe se não a ajudo, mas creio que a grandeza de sua dúvida não merece o descaso de uma improvisada e precipitada resposta.
Em uma de suas palestras, o senhor disse que, para trabalhar inteligências múltiplas, é preciso acordar o saber mental. Gostaria que o senhor falasse mais sobre isso. (Juliana Storino Pereira Costa)O cérebro humano, guardando-se as devidas proporções, é mais ou menos como a mão esquerda de uma pessoa destra, que é inábil para uma série de tarefas que a mão direita realiza com extrema facilidade. Mas a eventualidade de uma fratura e a imposição do uso da mão esquerda despertarão suas competências e, pouco a pouco, construirão capacidades que antes se acreditava impossível. A metáfora vale para a mente humana: se estimularmos com exercícios coerentes e planejamentos adequados nossa memória, criatividade, atenção, capacidade de pensar, sensibilidade tátil, capacidade sonora e inúmeros outros elementos, estaremos acordando o saber mental.
Ouço e leio sobre inteligências múltiplas. Mas como trabalhá-las de forma coerente com educandos e, principalmente, na formação de educadores no dia-a-dia? (Claudia Regina Bastos Lima, São Paulo/SP)A pergunta é interessante, mas sua resposta é seguramente muito maior que o espaço previsto em uma entrevista. Sugiro a leitura do fascículo Como Ministrar Conteúdos Utilizando as Inteligências Múltiplas, de minha autoria, publicado pela editora Vozes, em que enfatizo essa utilização em diferentes disciplinas do Ensino Fundamental ou Médio.


Como seria a avaliação dentro desses novos parâmetros das "inteligências múltiplas" e quais os instrumentos necessários para realizá-la? (Elisângela Souza de Oliveira)Em meus livros sobre inteligências múltiplas, tenho trabalhado intensivamente a questão da avaliação e mostrado que existe um abismo intransponível entre a "avaliação pelo máximo" que praticamos e a "avaliação pelo ótimo", que parece ser o paradigma correto para avaliar um aluno quando se trabalham inteligências múltiplas. Na avaliação pelo ótimo, considera-se não onde o professor supõe que seu aluno esteja, mas onde, auxiliado pelo professor, ele efetivamente se encontra.
Qual sua opinião sobre a progressão continuada no Ensino Fundamental? (Darli Pantonjo, Sorocaba/SP)A progressão continuada constitui tema que envolve longas discussões, e qualquer um dos lados que a discute apresenta argumentos que necessitam ser pensados. Não parece ser questão de sumário julgamento que oscila entre um "ser a favor" ou "ser contra". Um ponto a discutir é saber se ela é implantada para enfraquecer a insuportável tirania da reprovação, por meio da qual o professor usava a nota como instrumento de obtenção da disciplina, supondo que interesse e necessidade de aprovação fossem coisas simultâneas, ou se existe porque interesses econômicos e necessidade de mais vagas aprovam alunos despreparados.
A verdadeira progressão continuada como é atualmente praticada na Espanha, França e outros países não exclui a eventualidade da retenção, mas baseia-se na premissa de que a verdadeira aprendizagem abriga ciclos não necessariamente coincidentes com a duração de um espaço letivo e propõe avaliações significativas que efetivamente identifiquem se o aluno avançou ou não no que Vygotsky chamava sua "zona de desenvolvimento proximal". Como é fácil perceber, Darli, o tema é amplo e precisa ser refletido e discutido antes de um simples parecer favorável ou contrário.
Como devemos encarar e trabalhar o erro ortográfico com crianças de 7 a 11 anos? (Elisângela Souza de Oliveira)Todo erro do aluno deve sempre ser visto como instrumento diagnóstico para uma ação docente. O aluno erra quando falha em algum item do nosso processo de ensino e, dessa maneira, não são punições que o corrigem, mas a ação do professor, investigando as causas desse erro e, dessas causas, fazendo a trilha de sua caminhada.
Como você analisa esse investimento em materiais e tecnologia em detrimento do investimento em desenvolvimento humano? Seria uma opção criativa diante de tantas dificuldades neste momento ou somente mais um desvio de nossas verbas e energias na busca de um mundo melhor por meio da educação? (Flavia Paiva, São Sebastião/SP)Nada tenho contra o investimento em tecnologia desde que fique extremamente claro que esses veículos informam, mas não dispensam a ação presencial do professor orientando, explorando capacidades, animando competências e estimulando inteligências.
No sistema presencial de ensino, preparo as aulas e vou à escola. Entro em uma sala de aula, faço minha exposição, respondo a perguntas e sigo para a sala seguinte. O resultado é que, no fim do dia, falei para centenas de alunos, mas apenas um ou outro fez alguma pergunta. No sistema virtual, a comunicação é muito diferente. Os alunos colocam questões e mais questões sobre o mesmo tema, contestam e discutem, forçando-me a fazer mais pesquisas e a procurar respostas que antes não haviam sido pensadas. O senhor acha que o papel do computador na educação é ensinar ou ajudar a aprender? (Fernando Alberto Andreta Filho, São Paulo/SP) O computador informa como ninguém pode informar. Constitui incontestavelmente o mais avançado recurso conhecido para a transmissão do conhecimento, mas a verdadeira educação inclui a transformação de informações em conhecimentos, estímulo às competências e habilidades, e, para essa missão, o professor é insubstituível e imprescindível.
A relação pela Internet pode ser muito mais rica, dependendo do talento e do empenho do professor, ou os estudos virtuais levam à solidão? Salas de chat seriam a solução? (Alba Bruno de Brito, Cajati-SP)Sua pergunta é bem mais ampla que o espaço para uma resposta. Evidentemente, o papel do professor no mundo de agora não é mais transmitir informações e sim despertar habilidades, construir inteligências e abrir competências, e isso não pode ser feito sem que ele assuma o papel de fazedor de perguntas, de propositor de desafios. Nessa função e nesse papel, cobrando respostas e não apenas por elas esperando, o professor situa-se como profissional essencial, educador imprescindível.
Qual é a sua visão com relação às transformações que acontecem sugeridas pelas tecnologias? Na sua opinião, qual o maior agente transformador desse processo, o homem ou a tecnologia? (Viviane de Oliveira Pereira, Fortaleza/CE)O professor não pode ignorar que o mundo se altera rapidamente e que a sala de aula passa a ser invadida pelas novas tecnologias. Ignorá-las significa retroceder e, dessa forma, a alternativa mais sábia é assumi-la de forma integral, incorporando a tecnologia digital, o e-mail, o hipertexto e os novos softwares à sua forma de trabalhar, desenvolvendo novas habilidades e fortalecendo novas competências.
Como desenvolver competências em sala de aula? (João Pedro da Costa Neto, Ituverava/SP)A questão solicitada é interessante, mas muitas vezes maior que o espaço possível em uma simples resposta. Perrenoud enfatiza a existência de dezenas de competências e cada uma delas envolvendo explicações e ações de relato longo. Caso exista um efetivo interesse em aprofundar esse tema, minha sugestão é a leitura de duas obras de minha autoria: o fascículo 8 da Coleção Na Sala de Aula, Como Desenvolver Competências em Sala de Aula, e o livro Novas Maneiras de Ensinar, Novas Formas de Aprender, publicado pela editora ArtMed.
Como a escola tem de se preparar para esse desafio da complexidade? E os professores? (Jeny Soutto Mayor, São Paulo/SP) Sua pergunta, Jeny, é imensamente maior que o espaço que se tem para uma resposta. Acredito que o papel da nova escola que emerge nestes tempos em que o saber se banaliza é disponibilizar professores que, com as ferramentas dos conteúdos específicos de suas disciplinas, possam abrir inteligências, excitar capacidades e construir competências. A forma de assim fazer não é impossível e jamais se posicionaria como utópica, mas é evidente, uma resposta com mais detalhes e mais amplos exemplos e estudos de caso seria bem maior que o espaço disponível nesta oportunidade.


Como fazer para trabalhar as carências dos professores? (Colégio Mafrense, Mafra/SC)Acredito que o primeiro e decisivo passo para trabalhar a carência dos professores seria acentuar sua auto-estima e mostrar a essencialidade de seu papel. No momento em que todos os professores perceberem a dimensão de seu fazer e o inadiável papel de sua ação sobre o amanhã, sentirão a imperiosa necessidade de suprir suas carências, pressionando instituições para que lhes seja dado mais tempo para estudar, crescer e aprender.
O que você pensa sobre metodologia de sala ambiente? (Sidnei Roberto de Lima, São Paulo/SP)Uma sala ambiente constitui espaço excelente para a aprendizagem significativa e como recurso para facilitar ao aluno a construção de significados, os experimentos e, portanto, a verdadeira aprendizagem. Mas é essencial que os professores sejam treinados para usá-la e dela extrair todos os seus recursos e que os próprios alunos sejam induzidos a descobrir que esse espaço de aprendizagem é diferente da sala de aula comum e, portanto, exige o emprego de capacidades e competências diferentes. Usada com critério, treinando-se progressivamente os professores e os alunos para esse uso, ela será, sem dúvida, excelente.
Como faço para trabalhar a rebeldia dos alunos? (Carla Cristiane Rocker de Almeida, Curitiba/PR) Em um fascículo de minha autoria, Professor Bonzinho = Aluno Indisciplinado: Como Trabalhar a Disciplina e Indisciplina em Sala de Aula, publicado pela editora Vozes, procuro analisar esse tema pelos múltiplos ângulos que ele exibe. Sugiro uma leitura e seu retorno para uma nova discussão sobre a rebeldia dos alunos.
Estudo Licenciatura em Informática na Universidade de Brasília, e a seguinte questão caiu em uma prova de Didática: "Como as inteligências pessoais podem interferir na relação professor-aluno?" Não consegui responder, então, tenho o privilégio de lhe passar essa bola... (Luiz Marcelo F. S. Serique, Brasília/DF)
O desenvolvimento e a educabilidade das inteligências pessoais leva o indivíduo a descobrir-se na descoberta do outro e, dessa maneira, aprofundar seus sentimentos de empatia, auto e heteroconhecimento. Com esse aprimoramento, a relação aluno-professor se estabiliza e, existindo maior compreensão, constrói-se mais intenso afeto.
Um fato que me chamou muito a atenção é a sua facilidade com versos e rimas. Será que se importaria de dizer qual a sua relação com eles? Sempre foi um bom leitor ou desenvolveu essa habilidade? (Juliana Storino Pereira Costa)Fui durante toda a vida, e sou ainda hoje com igual entusiasmo, um leitor de poesias, versos e trovas, e esse hábito desenvolveu uma certa facilidade em buscar rimas, construir sentenças, localizar em uma frase a palavra que melhor substitui uma outra qualquer. Essa prática, desenvolvida quando ouço rádio em trânsito congestionado e quando leio anúncios e cartazes, deve ter contribuindo para essa facilidade.
  




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